Filho, vai brincar um pouco do lado de fora. Disse a mãe passando em frente a sala, enquanto carregava uma bolsa com certa dificuldade.
O menino fez como se não tivesse escutado e continuou com os olhos vidrados na tela colorida.
Filho... Disse respirando fundo. Lucas! Advertiu a mãe com um pouco menos de paciência, enquanto desligava a televisão.
Ah não, mãe! Reclamou o menino.
Chega! Desse jeito você vai ficar vesgo! Vai brincar lá fora, vai no parquinho, respira um ar puro, não sei, mas televisão agora não! Disse atravessando a sala e finalmente livrando-se do peso da bolsa em cima da mesa de jantar.
O pai estava sentado na mesa, enquanto lia as notícias no seu laptop.
Desse jeito você que vai ficar vesga… Comentou ao olhar a papelada dentro da bolsa da esposa.
O que você quer que eu faça? Essas provas não vão se corrigir sozinhas. Respondeu enquanto sentava e separava a papelada. Você bem que podia me ajudar e lavar umas louças, passar umas roupas, sei lá. Disse, cada vez mais vermelha, agora separando os papéis ferozmente.
Acabei de acordar, Camila! Me dá um tempo. Respondeu o marido.
E daí? Seu braço vai cair se me ajudar um pouco?
Hoje é sábado! Relaxa... Respondeu enquanto bebia um longo gole de café.
Ahh… Adorei, Eduardo! Disse ironicamente. Você fala como se, no sábado, todas as nossas responsabilidades fossem magicamente zeradas!
A mãe estava cada vez mais nervosa e o casal continuou a trocar farpas sobre problemas não muito relevantes. O filho, ao escutar a discussão dos pais, alcançou o controle remoto e ligou a televisão novamente no som máximo.
Alguns segundos depois, os pais perceberam o que o filho tinha acabado de fazer, e perceberam que enquanto ele olhava a tela da televisão, apertava os ouvidos com as mãos até as bochechas ficarem rosadas de tão apertadas.
A mãe encheu os pulmões de ar por alguns segundos com a intenção de dar uma bela bronca no filho, mas o pai a interrompeu imediatamente ao fazer um breve gesto de espera.
O pai levantou, buscou o controle remoto, desligou a televisão, ajoelhou diante do filho e disse sorrindo:
Hoje é sábado. Sabe o que isso quer dizer?
O menino escorregou as mãos pelas bochechas observando o pai. Seus olhos estavam vermelhos e sua respiração estava curta. Ele respondeu fazendo que não com a cabeça.
Hoje é dia de picnic na lagoa. Respondeu animado. E hoje eu vou te ensinar a andar de skate!
O menino abriu um sorriso e abraçou o pai.
Você promete, pai?
Prometo. Respondeu bagunçando o cabelo do filho.
Ótimo. Assim eu posso ter um pouco de paz nessa casa. Disse a mãe, enquanto organizava a sua papelada.
Não senhora. Advertiu o pai. Você foi intimada a comparecer ao nosso picnic!
Eduardo, não começa vai. Replicou impaciente.
Por favor, mamãe… Suplicou o filho.
A mãe olhou para o menino e para o esposo e revirou os olhos.
Eu não acredito nisso… Mas eu preciso estar de volta às 17h da tarde!
Os três saíram de casa em direção a lagoa carregando uma enorme cesta de picnic. O dia estava ensolarado e a lagoa estava repleta de crianças brincando, jovens fazendo exercícios físicos, famílias de todas as idades aproveitando o sábado de sol, enquanto caminhavam em meio a turistas e cariocas.
O pai avistou um lugar vazio na grama para estender a canga de picnic e os três organizaram um belo banquete.
Modéstia parte, esse lanche está me dando água na boca. Disse Eduardo enquanto aproveitava o cheiro dos quitutes estendidos.
Hummm, eu amo sanduíche de geléia, disse o menino suspirando.
Olha filho, disse a mãe apontando para cima. Uma borboleta azul!
A borboleta voou até pousar lentamente no sanduíche do menino e se exibir por alguns segundos antes de voar novamente.
Uau ... contemplou o menino. Eu nunca tinha visto uma borboleta tão perto! Ela é muito linda!
Sim. A mãe concordou sorrindo.
Há poucos metros dali, um casal começou a tocar uma música no violão e a mãe olhou surpresa para o pai.
Lembra dessa música? Disse o pai sorrindo.
Como eu poderia esquecer? Respondeu a mãe com o rosto corado.
Que música é essa? Perguntou o menino enquanto sugava um suco de caixinha.
Essa é a música que estava tocando no restaurante no dia que a sua mãe me contou que estava grávida de você. Disse o pai sorrindo.
E sabe o que o seu pai fez? Continuou a mãe. Ele ficou tão feliz que me tirou pra dançar!
O menino sorriu ao ver o pai estendendo a mão em direção a mãe. Sua mãe olhou para os lados, mas eventualmente cedeu ao gesto e segurou a mão do pai. Os dois começaram a dançar lentamente ao som do violão. Ao final da música, perceberam que mais quatro casais também estavam dançando e todos aplaudiram.
Pai, me ensina a andar de skate agora? Perguntou o menino animado.
Sim senhor! Respondeu prontamente.
O pai ensinou o filho a ficar em pé no skate, e depois de algumas tentativas e leves tombos, o menino já conseguia ensaiar um deslize perfeito pelo calçadão da lagoa.
Uhull. Comemorou o menino. Olha mãe!!
A mãe aplaudiu e sorriu. Fechou os olhos por alguns segundos e pode sentir a sensação de calor que o sol transmitia ao tocar no seu rosto misturado com a briza do vento que trazia um frescor leve e refrescante. Respirou fundo e pode sentir uma tranquilidade que há tempos não sentia.
Olha mãe, um macaquinho! Disse o filho apontando para um pequeno mico curioso que os observava de cima de uma árvore.
Que bonitinho. Respondeu a mãe. Nossa, há muitos anos que não via um mico!
Quer dar uma banana para ele? Perguntou o pai.
Sim!! Respondeu o filho prontamente.
Os dois alimentaram o mico e observaram ele se deliciar ao provar a banana madura. Os três aproveitaram o resto do dia ensolarado em meio a natureza, enquanto escutavam música e saborearam o picnic.
Querida, já são 17:30, observou o marido preocupado.
Não tem problema. Respondeu a esposa tranquilamente. Amanhã eu corrijo as provas, vamos aproveitar o resto do dia.
O esposo sorriu aliviado.
Filho, hoje vamos pedir delivery de comida para jantar! O que o senhor gostaria de comer? Perguntou o pai enquanto fazia cosquinhas no filho.
Pizza!!! Gritou o menino animado.
Os três voltaram para casa naquela noite estrelada, totalmente reenergizados. Prometeram um ao outro que fariam um programa parecido pelo menos uma vez na semana e agradeceram pelo dia incrível que tiveram juntos em família. Enfim, puderam perceber o que realmente era importante. Não eram longas horas de trabalho ou ficarem horas atrelados ao computador ou a televisão, e sim o tempo que passavam juntos em família, era isso que realmente importava.
FIM